Seja Bem-Vindo

Seja Bem-Vindo

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Imersa



Imersa e fragmentada,
também sem palavras para traduzir,
nesta tarde dilatada e lenta,
a desnudar a garganta e remexer
guardados em gavetas, atalho
que adentra nômade,
soturna e densa bagagem de silêncios
a remexer na jaula do tempo,
beber o vento.

Ausência do teu corpo,
devoluta nuvem tatuada na memória,
provisório esboço.
Marca da ferrugem, mesto azinhavre,
limo da pedra.

Homem das nuvens,
resquícios de nuvens aqui.

Fevereiro, 26 de 2011
(Aquarela de marlene edir severino)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Óculos, Vocábulos




A lua deixou de ser cheia no azul escuro
esboçada em ocre,
como naquela noite também do mesmo tom,
mas lá havia o céu de estrelas,
óculos embaçados a minha frente,
olhos nos teus de mármore tatuados
a vislumbrar a noite
e disfarçar a cara de desejo,
a querer te traduzir nos teus vocábulos
de doçura sulfúrica,
monossilábicos.

Ainda sonho-te comigo,
poeta, agora mudo
teu rosto conservo na visão
e tenho fome de ti, de tuas palavras cruas,
selvagens.

E aqui nesse silêncio,
a captar de tua imagem o lume que ficou,
vou acordar tua voz:
venha,
antes que o fogo apague
e que me canse de esperar...


(Dragão: aquarela de marlene edir)
Fevereiro, 24 de 2011

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Presença



Do silêncio de palavras não escritas
A buscar em outros mapas a presença,
Sopros,
Subcutâneos sinais, subliminares mensagens
Potencializadas numa estranha noção
De espaço corpóreo,
Reconhecimento de outras coordenadas,
Signos,
Timbre de imaginada voz,
De anelado cheiro identificado
No vento abrupto quando se aproxima tempestade,
Da intensidade de vago olhar
No mar espelhado,
Na presença da chuva
A disfarçar estranha saudade...


O importante, outros detalhes, bem se sabe, ocultos
Nem se encontra nesses mapas:
Incrustados nesse sentir estranho,
Ficam mesmo no silêncio,
Num intrínseco envolvimento, reconhecimento
De profundezas,
Afinidades.

Sem palavras.

Fevereiro, 20 de 2011

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Vago




Entre as mãos, o protótipo
e feito mágica,
infinidade avassaladora de pensamento
pinçadas imagens de tanto tempo
o tempo projeto,
indefinidos, meros planos
desceram feito cachoeira,
imagens boas, outras nem tanto,
que acreditara banidas estivesse em definitivo
de ressurgirem, ainda
e ainda mais abruptas
apresentaram-se ainda assim
como parte de todo conteúdo,

a fazer pensar
de que matéria é composta
alguma força propulsora
que no âmago te afirma,
fala com teus ossos, te anuncia,
obriga-te a seguir a levar o peso
do corpo adiante
sem indagar prerrogativa
e vão se delineando o que nem se
define se escolhas são,
mas que nas profundezas
reconhece-se de jeito estranho

como se buscado estivesse
desde o início e antes de tentar defini-lo,
há que ajustar-se a ele,
pois vai além de todo e qualquer entendimento,
e mais que isso nem cabe,

é deixar-se pertencer,
render-se a sua completude,
mergulhar nele, sorver, não é muito mais.
É vago instante.

Fevereiro, 12 de 2011
(Libélula: fotografia de marlene edir severino)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Descompasso

As coisas todas lá fora, e ao redor,
no lugar de sempre:
a paisagem, os sons do dia,
a vida a seguir seu curso

normal.

Apenas interna sensação
estranha,
ínfima partícula
sem definição,

mas de transparente brilho
e tanta cor
a diluir toda vontade
de se misturar ao dia

em descompasso.

Melhor ficar aqui na transparência
feito concha desgarrada,
quieta
a sorver embevecida
o doce marulho do mar.

Fevereiro 2011, 10

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Barcos: aquarela de marlene edir severino

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011



De um poeta

Tuas palavras metafóricas,
versos nas mãos feito flores
que ofereces
em furtivo buquê,

teu poema
rouba do céu seus matizes,
é pó de estrelas,
cintilâncias,
recôndito mapa das nuvens

a me tirar do chão!