Seja Bem-Vindo

Seja Bem-Vindo

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Toque




De improviso
chegas
Então me abraças

esse inconstante que há em ti
assopra-me

Rendo-me

E sinto o toque do metal
do anular esquerdo da tua mão



(Imagem:óleo sobre tela de MarlenEdir)
Dezembro, 22 de 2011

sábado, 17 de dezembro de 2011

Do Céu Deste Sábado



Tão azul o céu
nesta manhã
de puro silêncio,
de rua sem eco.

Atemporais essas asas:
planam pedras, quintal, mar,
lembram ausência,
voam ar, movimento,

num tempo nem sei se meu,
incerta rota
já nem há tempo:

sorvo vento,
deste impreciso
momento.


(Imagem: fotografia de marlene edir)
Dezembro, 17 de 2011

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O Vento Sopra Espinhos




Mudo,
teu sorriso
cala mais forte
no silêncio da casa.

Que cor alimenta o branco papel?
Escondidas todas as asas

e lá fora, o vento
não traz nenhum poema,
apenas sopra espinhos,
alonga longitudes.

Fica esse esquecimento
na pele do vento:
a casa, esse corpo,
toscas palavras.

Mais nada.

(Imagem: fotografia de Marlene Edir Severino)
Dezembro, 13 de 2011

sábado, 26 de novembro de 2011

Da Boca da Noite




Nada
cabe
no silêncio transpassado
da boca da noite

Invisíveis
todos os sinais

não expressam
o instante

Teia da aranha
a limitar o vazio

Imitação do silêncio
e ainda
não o traduz


(Imagem: fotografia de Sidarta)
Novembro, 26 de 2011

domingo, 20 de novembro de 2011

Dos Astros ou Catarse






E não por falta de que avisem os astros
e antecipem que inferno astral anuncia
tempos difíceis
nem levo à risca, mas prevenir em nada modifica
e antecipo as coisas mais complicadas,
ou outras menos, mas que de tão sem graça
empurra-se pra melhor ocasião

e começo a tentar liquidá-las bem antes
e agora, já lá pelo Agosto,
(quase meio ano antes)
meio a contragosto, mas faço,
se for para sofrer que seja logo
e antes que se avizinhe,

mas sempre ficam aquelas resistentes,
incrustadas, feito craca na ostra
e sempre surge um fato ou outro
ou alguma pessoa chata
a lembrar que ainda ali estão.

Devo estar me antecipando ao tempo,
falta a cautela de aguardar a resposta do universo
ou o que já se sabe e custa admitir
é que está tudo certo,
estão as coisas e pessoas no seu devido lugar
(se não, somente a elas cabe)

tomo conta eu, do meu espaço, aqui dentro
no meu ritual diário de buscar
e minhas asas ainda batem,
posso continuar a voar.

(Imagem:fragmento de aquarela de Marlene Edir)
Novembro, 20 de 2011

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Do Tempo




Conjugados
tantos tempos
muita vida
escorreu

pelos dedos

Vida plena
em cada dia
(num dia apenas)
é possível

viver?


(Imagem: óleo de Marlene Edir)
Novembro, 15 de 2011

domingo, 13 de novembro de 2011

Da Folha a Intenção





Resquícios de tinta
restos do café amargo
escorridos pela xícara

chuvisco que entra pela janela aberta
borrados
manchas no papel

A velocidade
do que penso
eletricidade que me habita

orgânicas palavras
transitam
vagueiam

tentam captar meu silêncio
nesta manhã de domingo


(Imagem: aquarela de Marlene Edir)
Novembro, 13 de 2011

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Poções




Borbulhar das poções. Salamandras,
atiçar das cinzas.
Opaco é o vidro da tua redoma,
engole-me o abismo do teu olhar.

Deixa teu cheiro no caminho,
do timbre da tua voz, uma semente
ao vento, eco dos teus passos
lentos, resquício de pegadas tuas

na caminhada da manhã...
Ou um fio de cabelo,
linha da tua camisa,

digital em alguma pedra,
qualquer indício
pra completar este feitiço!

Maio, 19 de 2011


Imagem: Aquarela de Marlene Edir)

Publicado no Céu de Abril em 19/05/2011
www.wwwceudeabril.blogspot.com

[Reeditado, em homenagem a todas as Bruxas!]

sábado, 22 de outubro de 2011

Resquício de Sal




Entre o céu e o mar, o risco do horizonte a separar.
Marulho, maresia,
tudo vagueia, cintilam sob o sol
ínfimos cacos de espelhos na areia,

chega a doer a vista
a imensidão de céu, mar,
areia a perder de vista
e de vez em quando o vento traz

o cheiro da ostra na onda a arrebentar na praia,
a respingar nas pedras, fica no ar
e se junta a uma saudade, de cheiro intenso,

nem sei se conheço, que ecoa no peito,
e sem testemunha, deixa resquício de sal
no rosto molhado de mar.


(Imagem: Praia Brava, fotografia de Marlene)
Outubro, 22 de 2011

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Ouro Bruto





Do tom do mel,
a iris dos meus olhos transformou-se
em cor de argila,
ocre do mar em dias de sol
no final de tarde,
ao contato da tua pele,
pelo teu tato,
em ouro bruto,

queima,
arde,

nem aurora ou ocaso,
agora, em pleno meio dia,
[sobre a mesa o almoço esfria]

tua voz lanceolada a quebrar meu cotidiano,
metálica
ecoa com brunido,
metal polido

língua,
céu da boca,
roçar de corpos, cetim,

sem pudor, nem tento conter tua mão:
de pura seda fica nossa pele,
seda-me,
nenhum senão,
transgressores desatinados,
barcos no mar em tormenta
levitamos

em câmera lenta.


(Imagem:óleo sobre tela de Marlene Edir Severino)
Outubro, 06 de 2011

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Desamparo




Silenciados
feito dois estranhos
[nem cabe falar muito em certas horas,]
apenas alguns longos olhares,
e arriscar algumas frases recheadas
de meras trivialidades,

nada foi facilitado

[e ainda assim, enxergou dourados fios nos meus cabelos,]

mas era tão pouca a luz da cafeteria,
e ampliada a sombra
no tanto espaço entre dois corpos,
no tanto silêncio que pairava,

foi permitido

que cada palavra se dissolvesse
pela saliva,
que se calasse em silenciosa dor,
presa;

nem meias palavras,
nenhum gesto a mais,

apenas um abraço,
imóvel,

de mútuo desamparo.


(Imagem: óleo de Marlene Edir Severino)
Setembro, 26 de 2011

domingo, 18 de setembro de 2011

Da Ausência Ainda





Apagar
o inalcançável
do olhar,

matar a sede
da tua ausência.

É cheio ou vazio
o copo?



(Imagem: Do Quintal, fotografia de Marlene Edir Severino)
Setembro, 18 de 2011

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Cacos nos Bolsos




No silêncio da casa
já não sinto tua presença como antes,
frágil e emudecido ficou o lado de cá da vidraça,
tampouco te vislumbro nas estrelas quando a noite chega;

pela moldura da janela,
muda, a lua me observa,
e do horizonte ainda retornam ecos,
mas não da tua fala,

em branco o papel
da tua palavra

e tenho

que exercitar essa ausência,
tentar ignorar parcos vestígios.

Quem sabe o tempo ajude
a encaixotar esses dias em cinza,
essa bruma que turva, confunde tudo,

essa saudade de coisas tão efêmeras,
cacos nos bolsos,

rastros
em mim.


(Imagem: óleo sobre tela de Marlene Edir Severino)
Setembro, 15 de 2011

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Sombras das Nuvens





Já não te falo mais do que me emudece,
de tênues, imperfeitas alegrias,
menos ainda de uma ou outra insignificância
que em algum momento me entristece:
conheço as dobras da tua armadura,

então transito imperceptível no silêncio,
vagueio por espaços com cheiro de abandono,
alguns passos sem rumo de abafados sonhos
transparente rascunho,
poema que não se concretizou

e tantas perguntas sem resposta,
agigantam-se, indecifráveis, ficam
imensas, tanta palavra sem som,
cor sem aquarela,

de vez em quando uma ou outra nuvem
desaba numa chuva, encharca a rua,
escorre pela calçada e pássaros fogem,

respingam lembranças, ecos abafados
habitam o silêncio, sombras das nuvens
turvam vez ou outra o azul do céu.


(Imagem: Fotografia do céu visto do quintal)
Agosto, 29 de 2011

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Janela de Dentro




A janela se abre para o quintal
através da cortina de névoa
que recobre a manhã,
encobre sonhos.

Chama-me o vazio,
invisível lado da janela de dentro,
cheira a abandono de provisórias cores,
imperfeitos cheiros, um nome em branco,
imagem ausente,
volta tanto, sempre aceso rastro
como se não tivesse ido.

Contida palavra: tristezas imediatas,
antigas insignificâncias nesta manhã de bruma
que confunde tudo
e deixa coisas fora do lugar.

Troco de roupa para aquecer o corpo,
ensaio o sorriso do rosto na frente do espelho,
distraio a solidão.

Experimento novas tintas, reparto meu silêncio:
desenho teu contorno, tua pele,
tua forma decorativa

amassada no papel.

(Imagem: óleo de Marlene Edir Severino)
Agosto, 15 de 2011

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Dias Cinzentos




O frio do piso da sala gela os pés
dentro dos chinelos surrados,
transpassa o veludo gasto da calça
e paralisa a fala.

Nem muito que falar do cinza:
um pouco de branco na paleta, abundante preto,
uma pitada de azul de céu
do mês de Abril.

A chuva de tantos dias
deixa mais verde o limo das pedras
no quintal, a umidade cala,
lentas horas, esquecido bilhete de viagem

na gaveta como alento,
lapso de tempo,
nem transcorreu, tão lento,
esquecido na névoa da manhã
a se estender pelo dia

em dias cinzentos:
amanhece e anoitece gris.

(Imagem: Praia Brava, fotografia de Marlene Edir Severino)
Agosto, 01 de 2011

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Na Tarde




Horizontais camadas do final de tarde:
janela da casa,
teatro de verdes azuis das colinas,
quintal em ocre
forrado do ferrugem das folhas
no limo das pedras,

janela adentro,
cheiro da maresia,
sutil marulho do mar.

Um avião deixa risco no céu.
A lua já se insinua.

Nem noite ainda.


(Imagem: Fotografia do céu no quintal)
Julho, 20 de 2011

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Perdida a Palavra




Que possa iniciar a frase
ensaio uma palavra:
o tempo escorre, perdida fica
a palavra,
morre

e a garganta não solta.

Resta o silêncio
como se tudo já houvesse sido dito.

Sorvo tua ausência:
coração entreaberto
preso na boca.


(Imagem: Óleo sobre eucatex de Marlene Edir Severino)
Julho, 11 de 2011

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Em Branco





Guardo em branco um nome.
Já o outro, imaginário,
que artificial parece,
respira natural em mim,

de presença frágil, invisível,
provisório , nem diferencio
com o dia que se vai,
esvai-se
na ausência de vestígios:
nem cheiros no ar.
Apenas guardado em mim.

E para imaginário nome
guardo poemas em branco,
impregnado de palavras que não escrevi,
mas deixo minha fala. Muda,
na rotina de silêncios desta casa,

que cúmplice, guarda
contida, carta de suicida
nunca encontrada.

(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)
Julho, 6 de 2011

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Do Vento





Do Vento

Pálido frio, ferrugem de final de tarde,
sibilar do vento nas curvas dos morros
emudeceu nos telhados de argila,
áspero, cortante,

dorso de iguana,
invade janelas da casa transparente:
antena de inseto, rodopio de folhas, latido de cães,
passos anônimos pelas ruas.

Depois, silêncio a calar bocas.
Lampejos de luz enviesada
a entremear folhas

opacas, soltas no chão.
Pigmentos de uma presença,
borrão no papel.


(Imagem: óleo de Marlene Edir Severino)
Junho, 29 de 2011

sábado, 18 de junho de 2011

Solitária Viagem




Atrás de tantos nomes
em algum lugar habitas
anônimo
em emaranhados de arames,
entrelaçadas palavras, pseudônimo:
sombras, espelhos,
busca de sinônimos,
trânsito de viajante, idas e vindas,

solitária viagem:
atravessam o veludo gasto
dos joelhos das calças
todas as lanças do vento,
que sibila cortante e doce
na cortina de contas a esmo
da mensagem. Doçura de olhar escoltado.
Escudos, escafandros.

O silêncio recompõe a pele,
ilhas perdidas de um olhar no meio do oceano,
indeciso, quase sorriso dos lábios
trava a língua. De mármore
é o contorno da tua boca

que silencia, não alivia do limbo:
cheiro de vida num papel de embrulho.

(Imagem: Óleo de Marlene Edir Severino)
Junho, 18 de 2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

Canção Que Fala de Pássaros






Improviso.
E chegas sem aviso
entre papéis,
frases soltas,
abismos.
A quilômetros de distância.

Moro no país da solidão.

Insone, escrevo versos
apodrecidos
quase secretos:
visualizo teu rosto,
agora teu corpo

e novamente esqueço
o café inacabado na xícara
em algum cômodo da casa
esquecida de mim. Ouvi a canção
que me fez lembrar-te.

Adormeci nos teus braços
entre conchas e a espuma do mar.

Despertei só.


(Imagem: Fotografia do quintal, de Marlene Edir Severino)
Junho, 6 de 2011

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Brincos Quebrados




" Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. " Clarice Lispector



De uma margem a outra,
hesitantes palavras sopradas ao vento.
Fermenta.
O pão fermenta antes de assar.
Nesse constrangedor silêncio feito senha,
busco a senha que adentra,

raiz na terra, coordenadas, qualquer guia,
indicação da estrada, caminhos que se sobrepõem,
reinventam o dia em contraditórias imperfeições
do livro sobre a mesa,
travessia, labirinto

de tatuadas palavras: grafadas chamas,
indeciso desejo, distâncias de tato,
mãos vazias, suspiros sem som. Entrecortados.
Nesgas, migalhas.

Quero o doce da flauta,
roupas com cheiro de sol. Prazer de fome saciada.

Viagem nas metáforas, águas tantas,
mero mergulho em fragmentos, sem bilhete,
clandestina viagem, olhos fechados.
Passagem.

Escrevo.

Brincos quebrados.


(Imagem: Óleo de Marlene Edir Severino)
Junho, 01 de 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Âmbar





Imperfeita como tarde de domingo:
na palidez da névoa, revoam gaivotas
feito um ritual sobre esverdeada onda,
que traz no dorso, apressado galho de árvore

e quebra num estrondo sobre a pedra
ocre em mil respingos.
Um navio se afasta e desaparece no horizonte,
e teus dedos de pedra a segurarem meu braço.

Entre a areia, mares, outras margens,
trazida pelo vento o eco da tua voz
calou nas pedras: visão da tua sombra, as redes

balançam na água barrenta
da maré cheia
âmbar da tua voz.

(Imagem: Praia Brava, fotografia de Marlene Edir Severino)
Maio, 22 de 2011

sábado, 21 de maio de 2011

De Anis




Pêssego da pele:
roça tua boca,
palato de anis.
Imprópria tua língua

atenta me tenta
liquefeita,
atritam meus pelos
o roçar do teu corpo

no meu: fisgas de agulhas
de prata,
arrepio de lâmina.

Dança
na cama,
o branco lençol.


(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)
Maio, 21 de 2011

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Oca





Oca cisterna, vazia,
sobre a mesa o búzio oco olhei
feito pedra imóvel, tristeza de montanha
inflexível como o inferno,

senti o frio da tua língua,
o roçar dos teus dentes,
céu da boca, névoa e tintas
sobre azul-marinho do céu.

A noite esqueceu a cigarra,
seca casca
no tronco descascado da goiabeira.

Passeio do risco no céu azul
nesta noite oca:
apenas um traço que passeia.


(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)
Maio, 13 de 2011

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Devo Morar no Silêncio






Algas secas no cascalho,
na areia, lavam com as ondas
o sal e o cântaro, o mel e a flauta:
teu cheiro chega com o vendaval, a pedra do peixe.

Meu sopro à beira do vulcão,
mas não posso ir mais fundo do que já me encontro.
Chove chuva na caixa de vidro.
Vislumbro tua sombra na vidraça,

embaça: sombra de tua sombra,
como mantras de Aruanda,
um traço azul, aquele fino traço:

mensagem na garrafa atirada ao mar
soa como gongo embalado no movimento das ondas.
A música lava, mas continuo aqui: devo morar no silêncio

quinta-feira, 5 de maio de 2011





Marlene.
Quem quiser adquirir meu livro de poemas e aquarelas: "Além do quintal", entre em contato através do e-mail:
leneseverino@hotmail.com

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ruído na Vidraça





Até tenho tentado
transcender esse silêncio,
sobra do espaço
que escondes sem dizer.

Nas tintas que acolhem a espera
em que busco teu abraço,
sorvo palavras,
uma a uma
da tua muda fala,

fico a querer interpretar
nesse vazio de som,
aquelas
ocultas nas tuas metáforas

e sonho
com tua contradição,
teu confuso medo
difuso.

Sonâmbula,
livro-me da memória,
quero olhar sem pensar,
transcender tua fala
que duplamente cala
agora.
Ouço um ruído na vidraça:

apenas um inseto
e treme:
esfacelou a asa.


(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)
Maio, 01 de 2011

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Indefinida Lua Minguante





Quero as estrelas todas
que encontras no caminho,
o risco, o traço
esse todo azul
que trazes entre as mãos,

quero tuas madrugadas
na minha insone noite
o mar, sol e areia a bruta argila,
rosa dos ventos de teus eloquentes versos
voos mais altos sobre o oceano
sem tempo, nem distância...

Quero esse teu olhar distante
perdido
a se perder dentro de mim
a me falar sem dizer de coisas tristes
feito canção sem letra
calar a minha boca.

Abraça-me.

Agora vou dormir.
Nessa minguante lua
indefinida
imensidão do nada

quero sonhar contigo.

(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)
Abril, 27 de 2011

sábado, 23 de abril de 2011

Crítica de Além do Quintal por Ricardo Steil

Crítica de Além do Quintal (Visão do Poeta)

Espero como sempre — ansioso —, o findar de abril. O morrer de abril. Só para ter o gosto de arrancar do calendário a folhinha branca com seu nome impresso. Tenho manias, razões por maio. Os que me conhecem intimamente — os poucos — sabem: meu coração é maio. Bem como, aqueles lábios — que infelizmente ela só lembra de usar quando o relógio informa ser: madrugada. Odeio fuso horário! O amor não merece o flagelo do fuso horário. O amor não merece o castigo de existir um oceano inteiro separando almas que nasceram para se unir.
Porém, enquanto trafego por entre as veias que formam esta cidade — minha cidade — percebo: abril soou diferente este ano.
Abril ganhou: cores, “aquarelas”, versos, costura e papel coche.
Abril ganhou: prefácio. Métrico, preciso, carregado em suas vogais, consoantes, de um sabor tão marcante quanto o aroma do vinho português, o sussurrar convidativo de um mortal a uma deusa e a beleza de um jantar à luz de velas.
Abril ganhou: posfácio. Urgente, másculo. Onde vírgulas, pontos, sentenças se enlaçam desejosos um pelo outro — e querem carne, alma, fluídos, todas as reencarnações possíveis, nada de meias-palavras, duplo sentido, rotina. E estas frases — curtos poemas — beijam, lambem, mordiscam, procuram-se na mesma frequência dos amantes quando tornam a cama: em poema, o ato: em amor.
Abril ganhou: “domingos” tão belos quanto uma “pintura”, apreciados pela poetisa enquanto toma “um café” e recorda que até o “azulejo quebrado” pode fazer brotar no seu íntimo um “aguaceiro” de versos... nascidos entre o desejo, o olhar e o morrer das tardes na Praia Brava.
Abril... abril, meu amor... este ano mudou de nome... virou: além do quintal.
E vai ser triste olhar o calendário e arrancar a folhinha impressa no final do mês.

Ricardo Steil*

P.S.: Lene, eis um lindo trabalho, elegante, sutil, digno daquela que recebeu a alcunha entre os eruditos de “A Dama”. Teus poemas são como você: ladys. Mas, entre a realeza produzida pelas tuas mãos, advinda da essência da menina que brincava na rua Indaial e da mulher que se emociona com estrelas, confesso: sou e sempre será fã de “Concha”. Perdoe a predileção, mas, como todo romântico: sou homem de um poema só...


Crítica de Além do Quintal (Visão do Crítico)

“Tentação” de Marco Hruscka — livro-marco-poético da literatura paranaense —, enfim encontrou adversário a altura com a publicação de “Além do Quintal” da catarinense Marlene Edir Severino.
Se Hruscka através de sua poesia cria imagens, figuras, entoa melodias perfeitas com seus sonetos — um Byron da nova geração —, Marlene transforma poesia em aquarela, o corpo em tela, tesão em amor.
Universos distintos que se completam: cosmo e caos, lábios e língua, homem e mulher.
Ambos devem ser lidos tanto pelos apreciadores das belezas poéticas, quanto pelos críticos e estudiosos. Torço realmente que um dia estes dois grandes autores se encontrem pessoalmente. Ia ser lindo ver “A Dama” tomando um “cafezinho” ao lado do “Byron de Maringá”, enquanto filosofam sobre a vida, “tentações”, “saramagos”, “hildas”, “devaneios”, “jogos cíclicos”, “Florbela”, “Pessoa” e “aquarelas” existenciais. As musas aguardam ansiosas... “à espera deste milagre” no “quintal” mais próximo.

Ricardo Steil*

*Ricardo Steil (pronuncia-se: estel): escritor, poeta, compositor, crítico de cinema, acadêmico de Psicologia (UNIVALI). Natural de Itajaí/SC (02/07/1978). Tem inúmeros trabalhos em seu currículo e os seguintes prêmios: Estrela de Ouro dado pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores pelos mais de cinqüenta mil acessos de seus poemas “Sei do Teu Novo Amor” e “As Quatro Estações” entre abril e junho de 2009; Prêmio Cânon de Literatura (Poesia) ed. 2009; Prêmio Nacional Panorama Literário Brasileiro (coletânea que reúne os melhores trabalhos publicados ao longo do ano), ed. 2009 com o poema “Sei Do Teu Novo Amor” e ed. 2010 com o conto “Pequeno Mosaico das Neuroses do Homem Contemporâneo”; Prêmio Tesouros Brasileiros — concedido pela Academia de Letras de Goiás — que gerou coletânea homônima representando o Brasil na Feira Internacional do Livro no Cairo (Egito) e Buenos Aires (Argentina) em 2011. Prêmio Literacidade edição 2010. Integrou o livro: Os Mais Belos Poemas de Amor — coletânea que reúne os melhores poemas do país tratando do tema — três anos consecutivos — a saber: 2009/2010/2011. Livro de Ouro da Poesia Contemporânea — antologia que reúne anualmente os poetas destaques da atualidade — edições 2009 e 2010. Em dezembro de 2009 recebeu do Projeto e Revista ZAP, Certificado De Honra ao Mérito Em Reconhecimento Ao Seu Importante Trabalho Humanitário Em Prol Da Cultura e da Paz, idem 2010, certificado este reconhecido pela UNESCO. Nono colocado da XVI FESERP 2010 (Paraíba) com o poema: À Flor da Pele. Participou da coletânea: Uma História No Seu Tempo — edição-homenagem aos vinte e cinco anos de existência da Scortecci Editora — e Elo de Palavras (Scortecci Editora) lançada especialmente para a Bienal do Livro de SP em 2008. Em 2011 integrou Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos Ed. 73 após seletiva disputada com quase seis mil trabalhos e a coletânea de contos Sexta-Feira 13 – resultado também de concurso nacional. Em abril é incluso no volume 77 da Antologia de Poetas Brasileiros com o poema Flávia Carolini. Colunista por dois anos do maior site do Brasil sobre a Era de Ouro da Sétima Arte — intitulado: Cinemaclássico — assina a coluna mensal “Cinema” da revista cultural de maior circulação do litoral catarinense: Sopa de Siri — com tiragem de dois mil exemplares —, contribuindo esporadicamente para outros periódicos sobre literatura/teatro/música. Autor da trilha sonora da peça teatral: Adulto Para Crianças (2010), prefaciou os livros: Realizando Meu Sonho (2009), Encontrando a Felicidade (2011) de escritor sergipano Joéliton dos Santos; Por Favor, Me Deixa Sonhar (2010) da poetisa pernambucana Carla Marinho — responsável também pela diagramação destes. É autor de: Purviance (Impressões Cinematográficas) — coletânea dos melhores artigos que publicou no site Cinemaclássico — e Sobre O Amor E Outras Histórias (Poesias), ambos de 2009).

*Nota: Reproduzo na íntegra a mensagem de E-mail que acabei de receber de meu
amigo Ricardo Steil, imensamente feliz por tudo e tanto que escreveu, sem
palavras para traduzir o sentimento que me arrebata neste instante, resta-me
somente enviar um carinhoso abraço, que farei questão de pessoalmente dar.

Abração, querido Ricardo!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

De Solidão




Neste dia de abril, outono,
parece que ouço a voz da solidão,
ainda mais agora,
na espera do dia que acaba,
o tempo meio que se arrasta,
quase para
e a brisa de tão suave
conchavou-se com esta hora

na folha que caiu da goiabeira
e planou por um segundo
indecisa
depois desceu ao chão,
alojou-se ao lado da pedra
solta
que repousa num canto,
silenciosa
sem querer se definir:

se triste
ou simplesmente solitária.

(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)
Abril, 21 de 2011

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Crescente Num Abril, Quase Cheia



Deslizam as estações
pela janela
emoldurada lua
circulada em luz,
envolta de estranho brilho,
suavidade de imagem esboçada
leve sorriso traçado
um nome

em inconclusos poemas
esconde-se,
rabiscados pedaços
de papel sobre a mesa

imensidão de palavras
escritas
avulsas linhas,

esqueço-me
entre nuvens num céu de abril
e a alma enxertada de palavras

em mudo diálogo
de vento.

Invisíveis sinais.


(Imagem:Aquarela de Marlene Edir Severino)
Abril, 15 de 2011

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Poema Aveludou o Papel




Para Leonardo B.
escrito no instante em que recebi o seu "Além do Quintal", que postou como
"Itajaí, Doze de Abril às Oito em Ponto", emocionada com seu tão belo poema...


A paisagem ficou amalgamada
de suaves tons de cores
farta suavidade
no ar, impregnada de um céu de abril,
outono aqui
sol quase posto

leve brisa soprou
como carícia tocou-me o rosto,
mexeu nos meus cabelos
incorpóreas mãos
de vento

no cheiro do mar daqui
impregnado de aromas de outro mar,
ancorada barca

no horizonte,
vislumbrado anelado rosto,
feições suaves, reconhecido
o leve sorriso agora.

De volta à terra plana,
misturado às cores tantas do pincel,
aguada de aquarela

e teu novo poema aveludou o papel
adentrou com novo tom
onde há muito já se encontra
raiz, tatuado
neste além do quintal.

(Imagem: pintura de marlene edir severino)

sábado, 9 de abril de 2011

Além do Quintal




“Se ao sairmos aos caminhos, pela manhã ou pelas tantas outras partes do dia, na companhia de poemas e aquarelas arrumadas num livro, saídos aos caminhos como se partíssemos para um inventário do dia, esquecidos de nós, levando aconchegadas nas mãos as composições de Marlene Edir Severino, então, o caminho, como todos os passos que o podem compor na composição do poema e aquarela, serão, decerto, espontâneos momentos que nos recordam a provisoriedade do aquém e além, dos vultos que fomos construindo e que na poeira que se insiste no caminho e aí se revela, rumo á finita incerteza da mudança, se revelam neste livro que agora temos entre as mãos.

E se agora enquanto instante, e se depois como breve traço do tempo, tomássemos nas mãos esse cálice de terra, pedaço de livro de tantas horas, que se chama vida ou sereno adiamento da sombra, pacifica e revolta placidez de silêncio, que se murmura nos segredos de quem tem muito por contar, da beleza que só os olhos sem cansaço são capazes de reter, na poesia que entrelaça na imagem, na aquarela que se derrama na palavra, e juntas agora, e se depois, ao caminho, com um livro debaixo do braço, levássemos o tempo, reinventando-o como ao “rosto (que) começa a desenhar-se sobre a superfície do tempo”, como sublinhou Yourcenar acerca da memória, da construção tranquila do tempo?

Então, todo o caminho, todo este livro que trazemos connosco, constrói-se na margem também, na sombra que já não se sabe hesitar e acorda na palavra entalhada na aquarela do dia, em todas as suas possibilidades, em todos os seus sóis ou chuvas breves e bem delineadas, nos carreiros aconchegados pela pedra esquecida, no rebordo da praia resguardada pela aba do mar, pela ruas e avenidas desgastadas pelos passos perdidos e achados, pelos lugares onde todo o caminho é livro, transbordo de vida, paragem maior muito além de onde o caminho começa, além do mínimo olhar, além do vasto quintal”



Leonardo B.
Bizarril, Janeiro 2010

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Além do Quintal...no blog do Marcelo

Além do Quintal

“Orgulha-me escrever essas linhas hoje. Digo, de “boca cheia”, que sou felizardo por ter a minha volta talento sobrando. Nossa pequena e catarina Itajaí é, sem sombra de dúvida, um privilegiado celeiro de mentes que criam. Vai além do quintal mesmo. Marlene Edir Severino é uma dessas pessoas que merecem louvores. Uma itajaiense que puxa o sotaque sutil, dizendo num Português sempre refinado e eloquente, sua experiência de mãe, de mulher e profissional.

Uma “das nossas queridas” que adotou os quintais desta cidade e fez da assistência social seu trabalho, da natação sua atividade física, das tintas seu prazer e das letras sua eternidade. Não faz muito que a vida me apresentou Marlene. Sorte a minha! Sorte a nossa! Entre umas braçadas e outras, na piscina da academia onde ainda nado, ficamos amigos. Foi fácil. Inteligência e simpatia são ingredientes formidáveis para atrair pessoas. Lá, nas bordas da piscina, nas horas de recuperar o fôlego, conheci uma artísta, uma escritora. Foi além do quintal que Marlene lançou-se no sonho de transcrever sua poesia e pintar suas aquarelas. Todas muito inteligentes, repletas de sentimento e da elegante simplicidade de ser e dizer o que é. Suspeito sou se parecer exagero, mas é minha opinião que nas poesias de Marlene voamos nas asas de borboletas, nas aquarelas a imagem ficção tornam-se reais e permite-nos o livre sentir. Acompanho, mesmo a distância, sem os bons cafés que volta e meia tomávamos e onde oportunizava-me a aprender, o evoluir dessa pérola que finalmente poderá ser apreciada por todos.

Minha sugestão para todos que gostam da boa escrita, da poesia profunda e da arte plástica distante do comum é conhecer Marlene pessoalmente no lançamento de seu livro “ALÉM DO QUINTAL POEMAS E AQUARELAS”.

Obrigado e parabéns Marlene! Você merece todos os aplausos, todo o carinho e respeito por seres essa pessoa batalhadora, criativa e formidável!

Do seu amigo, aprendiz e apreciador.” Batschauer’s blog abril 7, 2011 in Cultura

(Nota: Não resisti e "roubei" o texto do Marcelo Batschauer...)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Lançamento do livro Além do Quintal

Breve Nota: Aos que não conhecem a autora e seu trabalho, importante informar que Além do Quintal, poemas e aquarelas não foi contemplado com nenhuma lei de incentivo, ou qualquer outro empresarial e os apoios mencionados no convite referem-se a disponiblização do espaço público da Fundação Cultural, ao convite e coquetel a ser oferecido durante o evento.

sábado, 2 de abril de 2011

Respirar o Poema



Palavras silenciadas, não escritas
chegam a doer nos ossos,
arde a pele
tamanho vazio
de ausentes palavras.
Sobram espaços no branco papel:

sem letras,
sem tintas,
resta-me
um corpo transparente

e respirar o poema
que sequer escrevi.

Muro,
pedra.

Onde mora a palavra?

Talvez fronteiriça se situe
na pouca distância
da tua palavra escrita

mas imensa, infinita,
na palavra não dita
que te distancia de mim.

(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)
Março, 31 de 2011

terça-feira, 29 de março de 2011

Da Casa


Conheço da casa seus ruídos

que mesmo sem dizer-me

conhece bem os meus,



também aqueles

entrecortados

que abafo num disfarce

e misturam-se aos demais ruídos.


Finjo que não são meus.


(Imagem: Aquarela de Marlene Edir Severino)

Março, 29 de 2011

sábado, 26 de março de 2011

Nem Palavras



Um oceano inteiro de silêncio,
um mapa,
esta aparente total falta
de ruído na noite,
voz nem mesmo há,

ausência do teu corpo,
nem palavras
a descerem pelas mãos.

Tatear vocábulos
calar a voz na garganta
que não sabe o que dizer.

Na casa adormecida
silenciar pulsação
e deixar que feneça

mudo,
isento de palavras
o instante desta ausência.

(Imagem:aquarela de marlene edir severino)
Março, 25 de 2011


sexta-feira, 25 de março de 2011

O que Fazer com Asas



O que fazer com asas

com estas asas alongadas,

imensas,

que ainda tento esconder

misturadas nessas nuvens

a querer varar o mar

em alçado voo,


o que fazer?


com este olhar distante entristecido

a divagar,

olhos fixos na linha do horizonte

repetindo um nome docemente,

feito mantra,

ingenuamente aguarda anelada imagem

a se concretizar,


o que fazer

com estas palavras todas que jorram

a querer calar a voz da garganta

e descem pelas mãos

tateiam sílabas

e às vezes nem sabem

o que escrever,


que se agigantam e se aquietam

em mudos sentimentos,

intensos,

quase secretos são...


O que fazer?



(Imagem: aquarela de marlene edir severino)

Março, 25 de 2011




segunda-feira, 21 de março de 2011

Mar na Manhã


Renasce a cada novo dia
ao primeiro orvalho da manhã,
de muda fala, amplitude
entre as mãos, sobra de lume,
com leveza do crepom e
tule de nuvem,
flutua no azul na tênue linha
do horizonte,

faz levitar
renovado

a cada manhã
na companhia do vento agita o mar,
respingos e espuma,
a cada segundo repetido,
desigual movimento
traz o cheiro da ostra, maresia

a leveza na liberdade do mar
na quase deserta manhã
na mudança de estação,
renasce, renovado

na manhã bem cedo ainda,

um dia
de um março qualquer...

(Imagem: aquarela de marlene edir severino)
Março, 21 de 2011

domingo, 20 de março de 2011

Fixo


Vago espaço
que restou do áspero
a prolongado intervalo
fixo
a impressão de
que tudo havia sido dito.

Lembranças tatuadas.

(Imagem: aquarela de Marlene Edir Severino)
Março, 20 de 2011 (domingo)

sábado, 19 de março de 2011

Viagem

Ditada pelas circunstâncias,
postergada pelo acaso;
de pretenso a permitido resultado:
interna viagem, conspiração dos silêncios.
Habitar de serpente
sinuosa a devassar entranhas,
intrínseco corpo a se conhecer nas profundezas
de anseios invadido, soturna agonia,
caminhar sôfrego, largas noites insones,
percurso silencioso de estranhos labirintos,
solitário tatear em rugosas superfícies,
a vislumbrar cores na sombra, sorver:
consentida solidão,
vazio, caos.


Março, 19 de 2011

(Nota:Referência a uma viagem empreendida em 19/03/2010, não planejada, que somente coube-me aceitar e que afinal, trouxe-me grandioso aprendizado,como traz cada dia, cada milésimo de segundo que se vive neste planeta...)

quarta-feira, 16 de março de 2011


São todos teus
esses versos românticos,
açucarados,

apesar disso
não são contra-indicados:

é tua a primazia
divido contigo
(em segredo)
a autoria.

Março, 16 de 2011

terça-feira, 15 de março de 2011

Sem Detalhes


Palavras tuas
tocam-me, teus versos
incendeiam-me.

Tenho pés de bailarina
mas nunca fiz sequer
uma aula de balé,

cheia de imperfeições sou
imperfeita
sem rotina,

assim te quero
sem detalhes.

Sintonizo-te,

mas não me perguntes como faço:
sequer consigo
responder-me.

(Imagem:aquarela de marlene edir severino)
Março, 15 de 2011 – 22h10

segunda-feira, 14 de março de 2011

Retalho



Retalho de final de tarde,
busco no silêncio
gesto fugidio,
de esvaziado sentimento
impregnado do indefinível,
nenhuma outra palavra,
incerto poema, a abreviar
vaga distância.

Apenas essas águas e
uma imagem congelada,
esvaecida,
inexorável ruído do mar.

Mais nada.

(Imagem:aquarela de marlene edir severino)
Março, 14 de 2011

sábado, 12 de março de 2011

Imensidão de Coisas



E agora
estas palavras todas a pairar
e tantas
soltas entre nós,
tantos segredos,
imensidão de coisas
que não dizemos e são muitas
e tantas
e nem mesmo sabemos
se esse tempo todo
ou se ao menos algum
ainda teremos pra dizer,
então,

diz-me

com tua alma,
assim,
pactuado, desse jeito mesmo,
silencioso sopro exalado
da tuberosa raiz às intempéries
chuva, vento,
tempestades, tantas alternâncias
das marés daqui

a sedimentarem-se no tempo
a procura de sinais,
olhos na linha do horizonte, ao vento,
estrelas, firmamento,
com todos os sentidos
aos enigmas fico atenta a desvendar:

diz-me, então,

se apenas é o eco do meu chamado,
se me respondes,
ou se tua é a voz que ouço
a me chamar...

(Imagem: aquarela de Marlene Edir Severino)
Março, 12 de 2011 – 12h02

sexta-feira, 11 de março de 2011

No Horizonte


Cheiro de outono
na manhã:
alga na areia,
maresia.

Céu, mar,
solidão
de pescadores.

O mar espuma
na pedra
lisa da água
fria.

Deslizam sonhos

do olhar
no horizonte.

Março, 11 de 2011

quinta-feira, 10 de março de 2011

Nas Asas


Sairei em viagem daqui
ainda madrugada,
nas desiguais,
despedaçadas asas,
de cores invadidas, misturadas

e no caminho
roubarei das estrelas dispersas pelo azul,
poeira de cintilâncias para meu olhar
e ao primeiro orvalho da tua manhã
abandonados os mapas de lonjuras no percurso,
vãs coordenadas, inútil geografia de
corpórea fronteira,

alcançar a margem de seguro porto,
numa estranha sintonia de encontro,
nos sinais do vento:
dança da folha, semente que plana,
silencioso pacto em segredo
selado na tua manhã.

Estarei contigo sem palavras
em olhar de estrelas a anelado rosto,
aquelas, roubadas,
a iluminar imenso, ansiado abraço.

Março, 10 de 2011
Imagem: aquarela de marlene edir severino)




quarta-feira, 9 de março de 2011

De pele


Faíscas dos teus olhos
no meu
singular contorno.

Nossa pele
a roçar
pelos
na penumbra.


Corpos de vidro
diáfanos
despedem-se
na translúcida manhã

trocamos de pele.

Março, 9 de 2011

terça-feira, 8 de março de 2011

De Cinzas e Fotografias



Do fogo que queimou
e consumiu guardados
em gavetas de sorrisos
de rostos de cor e viço
a despojos retorcidos.

De tempos vagos,
vaga memória restou,
da manhã de uma qualquer
segunda-feira,
algumas cinzas.

(Imagem:aquarela de marlene edir severino)
Março,7 de 2011

domingo, 6 de março de 2011

Quero


A voz da tua boca

a cuspir cruas palavras

ambíguas,

também doces e ternas,

teu olhar refletido

nos meus olhos

de mel,

quero

teu sorriso de novo

a medida do teu imenso abraço

em volta do meu corpo,

o dilatado gozo

ancorado no tempo

isento de partida.

(Alamanda: aquarela de marlene edir severino)

Março, 6 de 2011

sábado, 5 de março de 2011

Gosto do sal





Um pouco
da água do mar
no corpo

mistura
o gosto
do sal
do rosto.
Imagem: aquarela de marlene edir severino)
Março, 05 de 2011