Seja Bem-Vindo

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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Beira Rio: aquarela de marlene edir


Aquário

Final de tarde de mormaço,
a tua espera me deparo a chamar teu nome:
lampejos de luz, vitalidade de cores, mantra
pelo vento arremessado, varou o púrpura do céu;
mas te escondes circunspecto,
em estufa de vidro, látego,
no teu aquário.

Meu chamado bateu como inseto na vidraça.
Do quintal, vi o crepúsculo
abrasado transformar-se em crua luz,
pálida tinta de paleta de aquarela.
Fugidios pigmentos de ausência.


Um pôr-do-sol a mais.

30,novembro/2010
17h05

domingo, 28 de novembro de 2010

Aquarela de marlene edir (sem título)


Espera

É quase reeditado, mas não cansa
ficar aqui sem fazer nada:
o hibisco a exibir suas pétalas
aos últimos raios de sol, tremular de avencas,
dente-de-leão a espalhar sementes

ao vento, não me cansa,
ainda mais agora,

impregnada do violeta e fúcsia deste pôr-do-sol,
quando tudo em volta e até mesmo o tempo
fica tão devagar,
parece até que pára.

Mas ele fica a espera.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Dente de leão: aquarela de marlene edir


Fragmento

Final de tarde,
vazio,
caos divido,
dividido pensamento,
fragmentado mormaço de fim do dia.

Falar aos quatro ventos.
Abrupto, de boca enorme,
chega janela adentro.
Come pensamentos.

Tão claro agora.


sábado, 20 de novembro de 2010

Nebulosa rubra: aquarela de marlene edir


Desejo

Desejo


Tem um tom de vermelho meu desejo,
vesti uma calcinha da mesma cor
da cor do vinho, que bebi na taça,
depois senti calor.

Vesti também meu rosto do desejo
(às vezes essa transparência me incomoda).
Fiquei igual ao vinho, puro rubor.

Mas disfarçar nem fez-se necessário,
todo rubor aos poucos dissipou.

Somente a calcinha ficou fora do tom.

Lua cheia: aquarela de marlene edir


Pálida

Olhei no céu,
nem foi preciso confirmar no calendário;
é lua cheia, sim,

acima do muro: soberba e pálida,
a espreitar o meu desejo.

Descrente

Menstruou pela primeira vez aos onze:
menina, ainda brincava com boneca
nem seio tinha; magrinha, tipo vareta sem graça,
os braços pareciam maiores que todo o corpo,
sabia mais ou menos daquilo tudo
nas conversas na escola,
mas ainda esperava a palavra da mãe,
porque mãe era quem sabia naquele tempo,
tinha a palavra certa.


Tentou lavar a calcinha no tanque,
mas da mãe nada se escondia,
que sem muita conversa, perguntou:
- Já?
De inadequação o olhar da mãe

e rezou a noite pedindo com devoção
que tal não voltasse a acontecer,
sentia alguma coisa diferente;
nem de brincar dava mais vontade.

Cedo também aprendeu a ser descrente.



quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Estrela: aquarela de marlene edir




Busca

Quando canso do silêncio da casa,
faço versos
pra te encontrar.

Escondo solidão
em palavras soltas;

solto-as no ar!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010


Oquidões


Desordenado vento
de teu silêncio, revolto e obscuro
a varrer corpóreas e intrínsecas oquidões,
salpico de hesitantes abismos:
levou em turbilhão
poeira de estrelas, galáxias,
turmalina de olhos marejados,
olho d’água,
redemoinhos, remansos,
volúpia de ambíguo deleite.

De olhos no absurdo a pés fincados no chão:
sonhar montanhas,
rudeza objetiva do óbvio.
Envaidecida com fragmentos
segui-te em atalhos,
corredor de ilusório acorde
ampliado de tua voz tingida de arco-íris.

Absorta na tarde esvaecida

a saber pouco de resíduos,
quase nada:
fragmento de cigarras secas, casulo,

de esqueleto de folhas, movimento de avencas,
código das pedras.

Despedida de tarde
macia e gris.
Sussurros da noite
imensa te afasta de mim.